Modus Vivendi
FLUIDOS E MODUS VIVENDI
Para falar sobre a banda de rock Modus Vivendi tenho que falar antes sobre o grupo de rock Fluidos. Não sei se sou uma espécie de dinossauro da cena rock potiguar como algumas pessoas dizem, mas segue abaixo um pouco da minha pré-história musical.
FLUIDOS
Um pouco da sua História
Essa é apenas uma parte da história do Fluidos. Do Fluidos que eu vivi.
O Fluidos foi criado no ano de 1982 em Natal – RN, por mim, Manoca, e Bob Crazy, amigos que moravam próximos um do outro nos bairros de Petrópolis e Tirol, e que tinham em comum a paixão pelo rock e pela música em geral. O Fluidos passou por algumas formações, onde participaram ainda músicos como Marcelo Bruce, Saulo Coveiro e Eduardo Pindoba, até encontrar uma maior definição com Carito (vocal), Manoca (guitarra e vocal), Bob Crazy (baixo e backing), Ricardo Tadeu (teclados e vocal), e Fernando Suassuna (bateria).
A banda só veio “acontecer” mesmo na cidade no ano de 1984, com uma série de shows mais significativos, causando a ampliação do público, com certo sucesso e reconhecimento local. O Fluidos também tocou no interior, na cidade de Açu, algo pioneiro e desbravador para a época.
Antes disso, o grupo fez uma série de shows “caseiros” para um público, em sua maioria, ligado ao surf. A falta de recursos não desestimulou o grupo – ao contrário, todo o desafio era uma deliciosa aventura. A primeira distorção foi inventada por um amigo – Gerardo – também meio membro da banda: a guitarra era conectada em um equipamento “3 em 1” e o seu som saía distorcido em um headphone. Depois, esse mesmo “engenheiro de som” desenvolveu uma distorção “de verdade”, embora artesanal. Durante certo tempo, Bob Crazy tocou o baixo em uma guitarra, enquanto Ricardo Tadeu arrancava sons psicodélicos de um teclado quase de brinquedo. Um dos shows mais bem representativos da banda, ainda na fase inicial, foi em uma casa na praia de Pirangi do Norte – o público compareceu em peso, e o equipamento foi alugado de um grupo de baile e levado junto com os membros do Fluidos em um caminhão.
As primeiras reuniões e gravações experimentais aconteceram na casa dos meus pais. Depois, os ensaios com o grupo completo passaram a acontecer na casa dos pais de Manoca e Fernando, onde mais tarde foi construído um quarto específico para os ensaios. O Fluidos também costumava ensaiar em casas de praia de veraneio, no período mais calmo, de baixa estação, para evitar as reclamações dos familiares e vizinhos da cidade, por causa do barulho causado pelos ensaios. Pirangi, Cotuvelo e Genipabu, foram algumas dessas praias.

Da esquerda para direita: Manoca, eu, Fernando Suassuna e Bob Crazy - Ensaio do Fluidos em Genipabu (1984).
Com o tempo, o grupo foi buscando o profissionalismo, adquirindo melhores instrumentos e equipamentos, fazendo shows com uma produção sempre bem cuidada – cartazes, panfletos, slides, figurinos, iluminação, gelo seco, etc.
O Fluidos fazia suas próprias músicas – antes de fazer suas músicas em português, começou fazendo as músicas em inglês até assumir sua identidade dentro do chamado “rock brasileiro”. O Fluidos se auto-denominou inicialmente de “Grupo Primário de Som Livre”, e depois: “Grupo de Rock Alternativo”. O som do grupo era muito influenciado pelos grupos de rock dos anos 70, onde o rock progressivo e o hard rock reinavam. Rush, Led Zeppelin, Pink Floyd, Yes… e depois Marillion, foram algumas influências da banda. Músicas longas e instrumentais eram a tônica do momento. Mas não parou por aí – o Fluidos chegou a tocar músicas de grupos diversos como Os Novos Baianos, O Peso (grupo de hard rock brasileiro dos anos 70), Raul Seixas, The Who, etc. Em um certo momento, as musicas autorais do grupo receberam influências da New Wave ao Heavy Metal, passando pelo Progressivo.
Nessa época, o grupo chegou a gravar uma fita demo, no estúdio de Tony Som, contendo 02 instrumentais e 02 músicas cantadas – entre elas, o “hit parade” do grupo: “Hey Baby”, uma balada pesada e melódica, que rapidamente foi assimilada por todos. Antes disso, os registros sonoros se resumiam a gravações de ensaios e shows em equipamentos primários.
Cronologicamente, o Fluidos surgiu depois do Alcatéia Maldita e Gato Lúdico, foi contemporâneo do Cabeças Errantes, e antecedeu ao Cantocalismo e ao Modus Vivendi (banda inicialmente derivada do Fluidos).

Eu e Bob Crazy. Fluidos em dois momentos em 1984: na Praia dos Artistas (acima) e em Pirangi do Norte (abaixo).
Shows como o do Festival de Artes no Forte dos Reis Magos, da Praia dos Artistas em um campeonato de surf, do Centro de Turismo (esses em 1984), da danceteria do América, do Festival da Juventude na Cidade da Criança, do Festival da UFRN (esses em 1985), marcaram a história do grupo. O grupo ganhou esse Festival de Música da Universidade em 1985 com a música “Nuclear”, onde Manoca trocou a guitarra por um violoncelo e eu fiz uma performance vestido de caveira com cartazes de protesto. Essa música causou muita polêmica, pois muitos integrantes do juri não aceitaram a presença de um instrumento clássico em uma balada de rock, como também não simpatizaram com o tema da música, pois para eles, “esse não era um tema de nosso país”, que fugia a nossa regionalização. Nesse mesmo festival, o grupo também interpretou uma música do saxofonista Marquinhos, contracenando com um naipe de metais. A música se chamava “Síndrome de Peter Pan”, a qual cantei vestido do personagem. No final da música, em uma atitude irreverente para a época, perguntei: “o juri também canta”? A professora Clotilde Tavares fazia parte do juri e rompeu com as normas, cantando conosco o refrão. No show da danceteria do América, um grupo de 04 artistas plásticos pintou um painel enorme no palco, enquanto o grupo tocava, durante todo o show. Dois deles, hoje em dia, são profissionais de renome na cidade de Natal: o artista gráfico Afonso Martins e o artista plástico Flávio Freitas.
No final de 1985 saí do Fluidos e criei o Modus Vivendi. No dia 01 de maio de 1986, o Modus fez seu primeiro show, no Centro de Turismo, durante um Encontro Regional dos Estudantes de Comunicação… Mas essa é uma outra história… Ou a continuação dessa…
No primeiro semestre de 1986, o Fluidos foi para o Rio de Janeiro com Mário Henrique Araújo no vocal, fez alguns shows, e gravou um compacto simples, fazendo um som mais leve, dentro de um estilo mais pop. No mesmo ano o grupo sofreu um acidente de carro. Depois de alguns meses, seus integrantes voltaram para Natal e foi anunciado o fim do grupo. Logo em seguida, em 1987, o baterista Fernando Suassuna juntou-se ao Modus Vivendi. Depois de longos anos no Modus Vivendi e também trabalhando com outros músicos, incluindo uma temporada na Itália – Fernando toca no Mad Dogs e é proprietário da produtora “Sucesso”, de jingles e trilhas sonoras. O tecladista Ricardo Tadeu deu sequência as suas atividades de bancário. O vocalista da segunda fase do grupo, Mário Henrique Araújo, continuou trabalhando na UFRN e desenvolvendo atividades de música e poesia. O baixista Bob Crazy ainda tocou um tempo com o Cabeças Errantes, depois tornou-se psicultor, e hoje mora em Pium e trabalha com jardinagem e aquários. Em novembro de 2007 Bob Crazy voltou aos palcos, fazendo um show histórico na Casa da Ribeira. Eduardo Pindoba é alto funcionário do Sebrae. Manoca foi estudar música no Rio de Janeiro, e quando voltou, seguiu uma carreira de músico de jazz e professor da Escola de Música da UFRN, atividades que desenvolve até hoje, sendo uma forte referência na música do estado.
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MODUS VIVENDI
Tenha Modus! Vivendi e aprendendo…

Modus Vivendi no Centro de Turismo em 1986 - Show de lançamento da banda: TENHA MODUS! (Foto de Flávio Américo Novaes).
Histórico:
A banda de rock natalense Modus Vivendi (do latim “Modo de Viver”) foi criada em 1986, derivada do Fluidos. No final de 1985 saí do Fluidos e formei o Modus Vivendi com Alexandre Miúda na guitarra, Nelson Benevides nos teclados, Eric Firmino no baixo e Lênio Santos na bateria. Essa foi a primeira formação e a partir daí a banda passou por inúmeras formações ao longo de mais de 13 anos de atividades. Em certo momento, o Modus chegou a ter 02 bateristas, com performances das duas baterias sendo tocadas simultaneamente. Em outras formações teve 02 guitarristas, percussionista, saxofonista, tecladista, baixista… chegando a ter 07 integrantes. Nos últimos anos de existência, a banda enxugou sua “máquina” com 04 integrantes, numa proposta de um som mais compacto e forte, com: Carito no vocal, Edu Gomez na guitarra, Fernando Suassuna na bateria e Dudu Talfic no baixo sintetizado e teclados. Em meados dos anos 90, foi um dos ganhadores do “I Festival da Nova Música do Nordeste” no Palácio dos Esportes. O Modus Vivendi teve seu projeto de CD aprovado no Profinc, mas teve seu sonho interrompido com o fim do mesmo. Em 1998 apareceu em rede nacional no programa “Palco” da MTV, com outras bandas locais, e realizou suas últimas apresentações na Boate “A Lata”, no bar “Bimbos”, e na festa do Halloween do Albergue Lua Cheia. No final de 1999, estando o Modus cada vez mais funcionando como uma banda sazonal, eu assumi em nome da banda o fim do Modus Vivendi, e enviei um comunicado à imprensa potiguar sobre o fim das atividades do grupo, funcionando também como uma espécie de manifesto reflexivo sobre aquele momento musical da cidade.

Modus Vivendi, 1990, show na zona norte de Natal (na foto: Neemias Lopes e eu).
Temáticas abordadas:
Como a maioria das bandas nascidas nos anos 80 em Natal, o Modus sempre fez seu próprio som – a maioria do repertório era sempre de músicas da própria banda, estando as releituras e homenagens em menor quantidade. Sendo reflexo de uma realidade urbana, as letras da banda falavam da geração dos seus integrantes, tendo uma postura crítica, às vezes irônica, conjugando muitas vezes humor e amor, irreverência, poesia e ritmo. Com os sentimentos à flor da pele, mostrou uma Natal jovem, densa, noturna e antropofágica. A maioria das letras é minha. Em termos de música, a maioria das composições foi feita na parceria “Carito / Edu Gomez”. Com a nossa parceria cada vez mais “azeitada”, eu e Edu criamos um projeto paralelo, que explorava o diálogo da palavra com o som (“Poemas Eletri-Ficados e outros que foram embora”, depois transformado n’Os Poetas Elétricos). Na fase inicial, o baixista Eric escreveu e compôs algumas canções. E sempre houve uma ou outra música de algum integrante da banda (Miúda escreveu e compôs “Bocas de Licor”; Nelson compôs alguns instrumentais; Edu Gomez escreveu e compôs “Não Sou Mais o Mesmo”, etc.). A banda também chegou a receber uma ilustre colaboração: a letra de “Só”, do poeta e jornalista Carlos Magno Fernandes.

Modus Vivendi em 1990 em Pium, no show "A volta de Bartô ao século XXI" (na foto: Ilo Tonel e eu).

Modus Vivendi, na primeira metade dos anos 90, nessa formação, da esquerda para a direita: Eder Fofão (percussão), Carlinhos Suassuna (guitarra), Sílvio Boy (bateria), Ilo Tonel (baixo), eu (vocal), Neemias (sax) e Edu Gomez (guitarra).
Influências:
Resultado da influência de muitos membros que passaram pela banda, e dos longos anos de atividades, o Modus Vivendi sofreu influências diversas passando por várias fases e vários estilos. No início, o som da banda soava mais pop e até ingênuo, como a maioria das bandas dos anos 80, embora tenha sofrido também influência dos anos 70 – como o rock progressivo. Nessa época, pode-se dizer que o Modus fazia um som pop e melódico. Era comum haver durante os shows alguns instrumentais e climas “setentistas”, embora que os shows terminassem sempre “pra cima” com a platéia dançando. Mas foi uma época de muita “audição” – o Modus fez vários shows antológicos no Teatro Alberto Maranhão, com um público altamente significativo, que ia aos shows do Modus para “prestar atenção” na banda, no seu som (ouvir as músicas do grupo), nas suas performances e na produção. Com a entrada de Edu Gomez em 88, a banda incorporou elementos mais modernos, chegando a flertar com o hard-funk, e apontando seu som para outra estética musical. No início dos anos 90, a banda incorporou cada vez mais o rock and roll básico, fazendo um som cada vez mais agitado e dançante. Nessa época, a banda passou por uma formação de jovens músicos que renovaram o Modus. Foi uma fase de shows marcados por muita festa, muita energia, muita celebração com o público. O Modus foi cada vez mais se distanciando de espaços maiores como teatros e festivais, e se adaptando à nova época de fazer shows mais viscerais em espaços pequenos como barzinhos. No fim dos anos 90, a banda já estava com um som mais moderno, quebrado e pesado, flertando cada vez mais com a poesia. Uma característica do som da banda presente em todas as fases é, como chamávamos na época, a “música trabalhada” – o Modus sempre se preocupou em fazer um som com muito cuidado, com arranjos arrojados e muitos ensaios, fazendo muitas experiências e desenvolvendo um som próprio independente de modismos. Outra característica sempre presente foi a de um som pulsante, sempre pulsante!

Capa do programa do show do Modus Vivendi "Vida e Obra de Bartô" - Projeto Espaço Aberto, Teatro Alberto Maranhão, 1988 (Da esquerda para a direita: Paulo Milton, eu, Edu Gomez e Miúda - e Fernando Suassuna ao fundo).

Modus Vivendi, 1990, show durante um campeonato de surf na Praia de Ponta Negra (na foto: os guitarristas Carlinhos Suassuna e Edu Gomez).
Os shows:
O Modus tocou em teatros, festivais, ginásios, boates, bares, espaços ao ar livre… e fez shows por vários outros lugares além de Natal, como Mossoró, Caicó, João Pessoa, Campina Grande e Pipa. O primeiro show da banda (“Tenha Modus”) foi em 1986, em um Congresso dos Estudantes de Comunicação da UFRN, no pátio do Centro de Turismo, junto com a banda Cantocalismo. Os shows da banda sempre foram marcados por muita seriedade e responsabilidade, por uma forte preocupação estética e profissional – desde a luz e som, a figurinos, adereços, programas, slides, cenários, performances, participações especiais de outros músicos convidados, bailarinos, etc. A banda, inúmeras vezes, produziu seus próprios shows, atingindo grandes platéias. Além de shows conceituais, o Modus também lançou alguns projetos como o “Undercovers” e “O Peso Ideal”, ambos projetos de releituras e homenagens a grandes nomes do pop rock nacional e internacional de todos os tempos, reunindo “a nata” do rock local da época, com muitas participações de músicos de outras bandas da cidade. Com essa proposta de trabalho, e devido a inúmeras dificuldades, a banda trilhou o caminho da qualidade em vez da quantidade, fazendo de cada show um grande concerto, um grande evento, uma grande festa; com uma forte divulgação e com tudo registrado em cartazes, panfletos, programas… e com um forte apoio da imprensa local, que sempre reconheceu e valorizou o trabalho do Modus. Em 2003 a banda se reencontrou para participar do Mada e fez seu último show.

Modus Vivendi no show "Bocas de Licor", Teatro Alberto Maranhão, 1987 (da esquerda para a direita: Alexandre Miúda, eu, Erick Firmino e Nelson Benevides, com Fernando Suassuna ao fundo).
Alguns outros shows de destaque: “Bocas de Licor” no Teatro Alberto Maranhão, com uma grande produção (produção independente de 1987); Festa de Santana de Caicó, na AABB (1987); “Vida e Obra de Bartô” (Projeto Seis e Meia, 1988); “A Volta de Bartô ao Século XXI (na beira do rio de Pium, junto com o “Cabeças Errantes”, 1990); Show para um campeonato de surf na beira da Praia de Ponta Negra, 1991); 02 aberturas de verão na Praia de Pirangi; Show de encerramento de uma colônia de férias na Zona Norte (Conjunto Panatis II); “Cantos e Barrancos” e “PsicoBélico” (ambos no Bar do Buraco); Aberturas de shows do Biquini Cavadão (várias vezes) e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados; “O Um e os Muitos” no Bar da Bandeiras; “Sabotagem” (Projeto Seis e Meia, T.A.M, 1995); “A Rota dos Rótulos” no Casarão da Ribeira, 10 anos de Modus Vivendi (1996); “Modus na Lata” (Boate “A Lata”, 1998)… ENTRE MUITOS OUTROS!!! O Modus também participou das 02 montagens da peça de teatro “A Maldição de Blackwell”, da Stabanada Cia. de Teatro, no Teatro Sandoval Wanderley. O Modus fez a trilha sonora tocando ao vivo na peça contracenando com os atores (participei como ator, diretor musical e assistente de direção).

Chuva na bateria! Fernando Suassuna no show do Modus no castelo do Albergue Lua Cheia em 1996 (Festa Halloween).
Os “hits” do Modus:
Apesar de nunca ter gravado um disco (apenas algumas fitas demo), o Modus conseguiu “emplacar” várias músicas, apenas através dos shows. Como os shows estavam sempre associados a uma linguagem teatral, os fãs associavam a música à imagem das performances, além da própria letra que fortalecia sua memorização – já que as mensagens retratavam também o que o público vivenciava e sentia na época, em um processo de identificação e interação mútua “banda-platéia”. No início da banda, as músicas mais conhecidas e cantadas pelo público eram “Bartô Tá Mal” (que chegou a ser tocada em FM local), “Reclames da TV”, “Metal Sanitário” e “Cefaléia Everyday”. Mas também havia as canções mais líricas que agradavam bastante a platéia, principalmente o público feminino, como “Bocas de Licor” e “Espelhos da Dor”. No início dos anos 90, algumas músicas mais “funkadas” como “Funk-lhe Deixe” ou a espanholada “Que Caia a Saia” despertaram a atenção do público. Mas o hit dessa época era mesmo “Só Vai dar Maluco” – um rock and roll pauleira para ninguém ficar parado, um convite à festa noite adentro. Nas últimas fases, o Modus acertou com “Não Sou Mais o Mesmo”, “Mesmice”, “Letargia”, “Sabotagem” e “Só” (essa última com letra do poeta e jornalista Carlos Magno Fernandes). “A Sina de Ina” funcionava como um poema experimental dialogando com uma música densa, caótica, numa mutilinguagem, inclusive cênica (depois ela passou a fazer parte do repertório d’Os Poetas Elétricos, estando no primeiro cd d’Os Poetas). “Sabotagem”, uma das últimas canções, já trazia bateria eletrônica programada dialogando com a bateria acústica tocada com vassourinhas típicas de jazz, num grande poema cantado quase falado, em clima de intimismo e dança ao mesmo tempo. Ironicamente, “Sabotagem” profetizou o destino da própria banda: a letra falava dos que estão “do outro lado” (“sons que não tocam no rádio, livros que não são publicados, filmes que não passam no cinema”, etc.) cujo refrão resumia: “Sabotagem / Se perder na viagem é uma grande sacanagem”. O Modus compôs mais de quarenta canções. Seus shows traziam em média 22 músicas, sendo a maioria da própria banda. Devido à necessidade de renovação e aos pedidos dos “hits”, muitas boas canções (como “Dura na Censura”, “Sopa de Aspargos”, “Rapunzel Songs”, “Cabelo” e “A Rota dos Rótulos”) se perderam no tempo, talvez estando ainda na memória daqueles que foram mais a fundo, além dos rocks mais “festivos”. A versão inusitada da música do rei Roberto Carlos (“Você não serve pra mim”), misturando rock pesado com elementos de salsa e final punk, foi outro grande momento musical da banda.
(Veja letra de “Sabotagem” abaixo)
SABOTAGEM
(Letra: Carito – Música: Edu Gomez e Carito)
SONS QUE NÃO TOCAM NO RÁDIO
LIVROS QUE NÃO SÃO PUBLICADOS
FILMES QUE NÃO PASSAM NO CINEMA
NOTÍCIAS QUE NÃO SAEM NO JORNAL
HISTÓRIAS QUE NÃO PASSAM NAS NOVELAS
POEMAS QUE NÃO SÃO RECITADOS
LUGARES QUE NÃO SÃO INDICADOS
ASSUNTOS QUE NÃO SÃO ESTUDADOS
MATÉRIAS QUE NÃO DÃO NA ESCOLA
RELAÇÕES QUE NÃO SÃO RELACIONADAS
CONHECIMENTOS QUE NÃO SÃO CIENTÍFICOS
MÁQUINAS QUE SÃO MANUAIS
ROUPAS QUE NÃO ESTÃO NA MODA
COSTUMES QUE NÃO ESTÃO EM VOGA
PRAZERES QUE AINDA SÃO TABUS
VÍCIOS QUE NÃO ESTÃO NO CÍRCULO
NORMAS QUE NÃO SÃO NORMAIS
DROGAS QUE NÃO SÃO ASSUMIDAS
MISSAS QUE NÃO SÃO ASSISTIDAS
VIDAS QUE NÃO SÃO REGISTRADAS
GÊNIOS QUE NÃO SAEM DA LÂMPADA
ALDEIAS QUE NÃO SÃO GLOBAIS
BOBOS QUE NÃO SÃO DA CORTE
TRATAMENTOS QUE NÃO SE USAM MAIS
REMÉDIOS QUE NÃO ESTÃO NA BULA
PECADOS QUE NÃO SÃO DA GULA
MELODIAS QUE SÃO DA NOITE
RITMOS QUE NÃO SÃO DO MOMENTO
NEURÔNIOS QUEIMADOS NA FOGUEIRA
MEMÓRIAS QUE NÃO ESTÃO NA HISTÓRIA
ORIGENS QUE NÃO SÃO ORIGINAIS
TOQUES QUE NÃO SÃO DE CAIXA
ADJETIVOS QUE NÃO SÃO OBJETIVOS
ANIMAIS QUE JÁ SÃO DE MENOS
LÍNGUAS QUE NÃO SÃO IDIOMAS
DIALETOS QUE NÃO SÃO PREDILETOS
SABOTAGEM…
SE PERDER NA VIAGEM É UMA GRANDE SACANAGEM!
Mais fotos – Outros momentos do Modus Vivendi:

Show do Modus Vivendi no Palácio dos Esportes - Prêmio de melhor banda no I Festival da Nova Música do Nordeste (1993).

Bastidores do show do Modus Vivendi no Centro de Convivência da UFRN no final de 1989. Na foto de cima: Bárbara, eu e Mário Ivo. Na foto abaixo: Eu, o saudoso amigo, poeta e cantor Délio Miranda, e nosso técnico em explosões e efeitos especiais Ricardo Gererê.

Modus Vivendi em vários momentos. No sentido horário: caminhando para o início do show na zona norte (anos 90), dando entrevista para a MTV (1998), antes do show na Boate Rastafari em Mossoró (1987), no show do Bar Ponto Cruzado (1986) e no Bar Chernobyl (1988).

Divulgação do evento reunindo os show do Modus Vivendi e Florbela Espanca e a exposição "O Ovo de Eva" de Henrique José (na Pipa, verão de 1996).

Panfleto de divulgação do show do Modus Vivendi no Teatro Alberto Maranhão em 1988 (Da esquerda para a direita: Fernando Suassuna, Edu Gomez, eu, Paulo Milton e Alexandre Miúda).